Recordo-me de ter passado anos da minha infância jurando de pé junto que seria farmacêutica quando crescesse. Por que escolhi essa profissão?
Eu fui uma criança muito doente. Passava um intervalo pequeno entre uma gripe a uma garganta inflamada. Acredito que tomei todo o estoque de antibióticos e injeções infantis da farmácia que minha mãe sempre me levava.
A farmacêutica havia se tornado amiga da família e eu já era considera “sobrinha” dela, de tantas vezes que eu comparecia na farmácia.
Ainda lembro com certa amargura quando o doutor disse a minha mãe que eu deveria tomar dezesseis doses de um remédio que não lembro o nome. No entanto, eu devia tomá-lo para melhorar a inflamação na minha garganta já que o antibiótico liquido, rosa e docinho não fazia mais efeito.
Cheguei na farmácia imaginando ser algum tipo de comprimido ou xarope que teria que tomar. A moça me pega pela mão e me leva na salinha que eu mais odiava, a sala das injeções. Ela pede para minha mãe abaixar minha calça e sinto aquela picada dolorida e chata.
Engoli o choro como sempre fiz, já que nunca gostei de chorar na frente das pessoas. Foram dezesseis injeções em oito dias. Eu devia ter uns cinco anos, mas recordo bem do quanto odiei isso.
A partir desse dia eu brincava de dar injeções nas minhas bonecas e ursos, passei a falar com todas as letras que seria farmacêutica porque um dia teria a oportunidade de vingança por dar injeções e vacinas nas pessoas.
Eu era uma criança vingativa ou se parar para pensar, meio perturbada.
No final das contas, cresci e mudei a profissão de “quando eu crescer” várias vezes, trabalhei em vários empregos diferentes e em momento algum estava feliz, não encontrei a carreira dos sonhos.
Eu tinha certeza de que nunca conseguiria encontrar a minha grande paixão, que minha vida se resumiria em acordar cedo, ir para um trabalho chato apenas pelo salário, esperar ficar velha para aposentar e morrer. Triste final, sem emoções ou grandes realizações.
Até que um certo dia resolvi escrever. Eu estava em um dia tedioso e com a cabeça cheia, coloquei tudo para fora e gostei da sensação que tive após olhar todas as minhas ideias em formas que eu nem imaginava ser capaz de criar. Não era uma obra de arte completa, mas era um pedaço meu que coloquei para fora me trazendo alívio e satisfação.
Finalmente havia me encontrado!
Escrever! Era isso que eu queria fazer pelo resto de minha vida. Ficar atrás de um computador dando vida para as histórias de minha cabeça.
Escrever é uma libertação, uma oportunidade de ser você mesmo sem o julgamento alheio. Escrever é esvaziar a carga pesada que carregamos, dando-nos a chance de ser leves nesse mundo que só coloca pesos em nossas costas. Escrever é calar os demônios internos que nos assombram em momentos de silêncio. Escrever é humanizar nossos defeitos ao colocar características nossas nos personagens. Escrever é arte, é valioso e todos deveriam tentar.
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