Coração de Tinta | Resenha

5 de janeiro de 2025 - Regiane Silva

Livro: Coração de Tinta;

Autora: Cornelia Funke;

Editora: Seguinte;

Publicado em 2003;

Páginas: 455;

Nota: 3,5 ⭐

Sinopse:

Há muito tempo Mo decidiu nunca mais ler um livro em voz alta. Sua filha Meggie é uma devoradora de histórias, mas apesar da insistência não consegue fazer com que o pai leia para ela na cama. Meggie jamais entendeu o motivo dessa recusa, até que um excêntrico visitante noturno finalmente vem revelar o segredo que explica a proibição. Mo tem uma habilidade estranha e incontrolável: quando lê um texto em voz alta, as palavras tomam vida em sua boca, e coisas e seres da história surgem como que por mágica. Numa noite fatídica, quando Meggie ainda era um bebê, a língua encantada de Mo trouxe à vida alguns personagens de um livro chamado Coração de tinta. Um deles é Capricórnio, vilão cruel e sem misericórdia, que não fez questão de voltar para dentro da história de onde tinha vindo e preferiu instalar-se numa aldeia abandonada. Desse lugar funesto, comanda uma gangue de brutamontes que espalham o terror pela região, praticando roubos e assassinatos. Capricórnio quer usar os poderes de Mo para trazer de Coração de tinta um ser ainda mais terrível e sanguinário que ele próprio. Quando seus capangas finalmente sequestram Mo, Meggie terá de enfrentar essas criaturas bizarras e sofridas, vindas de um mundo completamente diferente do seu.

Resenha

Alguns livros devem ser degustados, outros são devorados, apenas poucos são mastigados e digeridos totalmente. (p.16)

Gosto de livros que aquecem meu coração a cada frase ou me arrancam um sorriso. Coração de Tinta se iniciou assim. Para uma leitora apaixonada, ler sobre personagens que amam livros tanto quanto eu é uma delícia. E esta obra está repleta deles.

Meggie tinha a impressão de quase ouvir os livros sussurrarem pela porta entreaberta. Milhares de histórias desconhecidas prometiam abrir milhares de portas para mundos nunca antes vistos. (p. 42)

Mo, pai de Meggie, é um médico de livros (um restaurador). Então, nossa querida garotinha cresceu vendo a paixão do pai por eles. Ela tem um baú com seus livros favoritos, aqueles que a acompanham em viagens e que a confortam nas noites difíceis.

Quando você leva um livro numa viagem, acontece uma coisa estranha: o livro começa a colecionar lembranças. Depois basta abri-lo, e você já está de novo no lugar onde o leu. Tudo volta, já nas primeiras palavras: as imagens, os cheiros, o sorvete que você tomou enquanto lia… Acredite, os livros são como papel pega-moscas. Não existe nada melhor para grudar lembranças do que páginas impressas. (p. 22)

No entanto, numa certa noite, a vida tranquila que ambos levavam muda drasticamente, devido à visita de um homem chamado Dedo Empoeirado (um misterioso artista de rua). Meggie não vai com a cara dele desde o primeiro momento. Ele é aquele tipo de personagem que te faz duvidar até a última página se podemos chamá-lo de amigo ou de traidor. Apesar de ele ter suas razões e de eu me simpatizar com ele, Dedo Empoeirado é bem egoísta. Na verdade, se pudéssemos trazê-lo para o mundo real, ele seria como qualquer pessoa cuidando apenas de si mesmo.

Mo tem um dom: ele pode trazer personagens literários à vida ao ler em voz alta. Dedo Empoeirado é um desses personagens que saiu do livro Coração de Tinta. A vontade desse rapaz é voltar para sua história, mas Mo nunca conseguiu fazer ninguém voltar.

O pai de Meggie guarda um segredo da filha há anos: quando ele leu Coração de Tinta para a esposa, saiu três personagens de dentro dele (Dedo Empoeirado, Capricórnio e Basta – estes dois são os vilões do livro). Porém, não foi apenas isso, sempre que algum personagem sai, outro entra. E neste fatídico dia, sua amada esposa foi enviada para dentro do livro. Então Meggie foi criada apenas pelo pai, ouvindo histórias de que sua mãe havia saído em uma viagem muito longa, por isso não morava com eles.

Mo sempre fugiu de Capricórnio, protegendo o livro a todo custo, afinal sua esposa estava dentro dele. No entanto, Dedo Empoeirado vai atrás de Mo para dizer que Capricórnio quer o livro e quer que Mo o leia. Assim se cria a aventura em que Meggie e Mo tentam fugir para que o vilão não tenha o que deseja.

Eles se refugiam na casa de Elinor, uma mulher viciada em livros. Sim, viciada é a palavra certa, pois a mansão em que ela mora está repleta de livros, incluindo os quartos de visita. O único lugar em que não há livros é na cozinha. Esta tia de Meggie ama mais livros do que pessoas e acaba sendo o alívio cômico para a história, apesar de ser bem chatinha às vezes.

Elinor é muito rica. Mas a qualquer hora dessas vai acabar sem um tostão furado, pois gasta todo o dinheiro que tem com livros. Receio que ela não hesitaria em vender a alma ao diabo, se ele oferecesse o livro certo em troca. (p. 36)

Nunca arrume uma paixão para a qual o seu dinheiro não é suficiente. Ela corrói o seu coração como uma traça. (p. 62)

Toda a casa dela está atulhada de livros. Ela os prefere à companhia de seres humanos. (p. 114)

Meggie é corajosa e curiosa, enquanto Mo é uma figura paternal amorosa, mas também enigmática.

O que não funcionou para mim nesta história foi que achei bem repetitiva algumas partes e bem maçante outras. Minhas partes favoritas são as de Meggie, esta, sim, é uma excelente protagonista, e tem apenas 12 anos. É impossível não se compadecer com ela.

A autora cria uma metalinguagem envolvente, na qual a própria existência das histórias é tanto mágica quanto perigosa. É uma ode ao amor pelos livros, que convida o leitor a refletir sobre como as narrativas influenciam nossa realidade.

Quando você abre o livro, é como num teatro: ali está a cortina. Você a arrasta para o lado, e a apresentação começa. (p. 56)

Onde se queimam livros, em breve passarão a queimar pessoas. (p. 149)

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Foto Regiane Silva Regiane Silva

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